terça-feira, 5 de outubro de 2010

A diferença

(por Vitor Roma)

Roberto Dinamite e Zico tiveram carreiras esportivas semelhantes. Ídolos das duas maiores torcidas do Rio de Janeiro e talvez do Brasil, os dois polarizaram esta luta por anos nos embates dos clássicos dos milhões.

Durante anos Zico levou a melhor porque tinha coadjuvantes muito mais decisivos do que Roberto. Os times do início da década de 80, no Vasco, eram no máximo razoáveis (com exceção do ótimo time de 1984), enquanto o time da ave preta tinha um dos melhores elencos do Mundo. Quando a maré virou, na segunda metade dos anos 80, Roberto ganhou em 87 e 88.

Enquanto Zico jogou três Copas, Roberto jogou duas. Ambos participaram de uma geração fantástica do futebol brasileiro, infelizmente derrotada em termos de conquistas mundiais. Ambos se tornaram maiores ídolos das histórias de suas enormes torcidas, e apenas de uma torcida nacional. Ambos estão entre os cinco maiores artilheiros da história do Brasileirão.

E as semelhanças param por aí. Na semana passada a notícia de mais relevância do futebol nacional foi a saída de Zico do comando do futebol do time da ave preta, após 4 meses em que só fez besteira. "Aos poucos, o Zico e o ... (não gosto de usar este termo) atual, o amor...está acabando."

Cada torcida tem o ídolo que merece. Que amor é esse? O ídolo que eles tanto veneram não passa de um fraco, que joga tudo para o ar no primeiro sinal de desgaste? E o melhor de tudo... Toda a "mística" em relação ao clube da ave preta continua a ruir. Não é time de chegada. Não tem a melhor nem a maior torcida do mundo. Não tem tantos títulos quanto pensam que tem, apesar de as vezes acharem que depois do quarto vem o sexto. Não tem estádio. O ídolo maior se manda. O segundo mais próximo que eles tem como ídolo é um cara que fez o milésimo gol jogando pelo Vasco.

E porque enchi minha coluna para falar de quem não merece? Porque Vasco é Vasco e nossos ídolos são melhores do que os ídolos dos outros!

As relações entre as carreiras dos dois ídolos terminaram quando suas carreiras terminaram. Zico virou Arthur Antunes, foi um dos responsáveis por uma Lei que quase destruiu os clubes brasileiros, montou um clube com o seu nome no mesmo Estado onde o clube que é ídolo disputa seus campeonatos, e depois se aventurou a ser treinador, coordenador, diretor...Enfim, fracassou em tudo. Após a volta ao Mundo, com direito a uma participação pífia na seleção brasileira durante a Copa de 1998, chegou como diretor remunerado ao clube que ama, ou amava , sei lá.

Em quatro meses, com o clube vivendo a maior crise de imagem de sua história depois de ter um jogador e capitão do time preso por assassinato e correndo o risco de ser rebaixado à segunda divisão nacional, Arthur Antunes simplesmente vai embora. Apesar da crise de imagem, Arthur Antunes assumiu o clube das aves pretas como o atual campeão nacional, sem pressão por título, sem mares revoltos.

Do outro lado o nosso maior ídolo, o maior ídolo do clube mais maravilhoso do Brasil, vira Presidente do clube porque era o único capaz de fazer a mudança que a torcida que o idolatra exigia; compra a briga, dá a cara a tapa, enfrenta as crises como enfrentava as defesas adversárias, fossem elas formadas por Marinho e Mozer, por Duílio e Edinho ou pelos capitães Leos da vida.

Pega um clube que não ganha nada há anos, que vive a maior crise financeira de sua história, passa a conviver com duas oposições hostis (ou seria uma só?), dentro e fora do clube, sofre com a ansiedade da torcida por títulos, com a ingratidão de mínima parte da torcida, com um fracassado plano bobo de transformá-lo em desonesto e até com um capitão Hércules no seu conselho fiscal. E foge da raia? Não. Levanta a mão e pede a bola, mesmo marcado por dois zagueiros de dois metros de altura, como quem fala: "pode dar em mim que eu resolvo".

Foi tudo que senti nesta semana, orgulho por ver que o maior ídolo da história do Vasco não é um covarde que sai correndo quando o bicho pega. E não podia deixar de escrever sobre isso hoje.

E VIVA ROBERTO DINAMITE! ÍDOLO DE VERDADE! QUE ERRA, ACERTA, MAS NÃO SE OMITE NEM CORRE DA BRIGA!


Vitor Roma (@meucaldeirao // @vm_roma)

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