(por Hélio Ricardo)
Você sabe o que é uma falácia?
Uma falácia é um discurso construído em cima de uma meia verdade. A partir de um fato isolado ou restrito, cria-se um suposto valor absoluto. É como dizer, por exemplo, que cabelo branco é velhice só porque todos os idosos costumam ter a cabeça branca. Mais ou menos isso, a grosso modo.
Infelizmente o futebol vive de muitas falácias.
A imprensa – sobretudo os cronistas esportivos, que precisam se sustentar em discursos politicamente corretos para não perderem suas concessões - adora falácias. Nem preciso citar exemplos. A gente lembra de vários. Vou antecipar aqui um dos que virão daqui a algum tempo na mídia: quando o Vasco trocar seu técnico, não vão faltar Calazans da vida para dizerem que o clube foi ingrato e que estava perto do rebaixamento quando o técnico nos salvou da degola e que, agora, resolvemos demiti-lo.
Uma das maiores mentiras do futebol é a de que trocar técnico não resolve problema. É claro que resolve. Não tem lógica nenhuma, é verdade, mas que resolve... resolve!
Qual é a lógica para um treinador do porte de Luxemburgo ter feito campanha tão pífia e medíocre com o Atlético Mineiro? E como conseguiu – a duras penas – dar uma melhorada no fraco elenco do Flamengo?
Pois é. Não tem lógica. Mas os dois – Atlético Mineiro e Flamengo – melhoraram muito quando trocaram seus técnicos. Não adianta explicar. Mas é da vida: o que ta ruim, tem que mudar, seja para o que for. Só os cronistas esportivos fingem pensar diferente para fazerem média com os profissionais. Discurso de político, sempre.
O fato é que eu já tinha batido a bola de que PC Gusmão está gasto no Vasco. E ele continua aprontando das suas. A entrevista que deu esta semana julgando o time e expondo publicamente sua opinião sobre os resultados é duplamente burra – se me permitem a grosseria. É burra porque todo mundo sabe que roupa suja se lava em casa, onde ela sempre fica mais limpa de maneira mais rápida. E é burra também porque o time que ele está criticando é dirigido por quem? Pela minha mãe? Pela sua? Não... por ele! É uma expiação pública. Uma transferência de culpa e de responsabilidade que não cabem a um líder supostamente maduro e profissional a conduzir um clube de ponta. Com todo respeito ao modesto Ceará, foi de lá que ele saiu quando o Vasco resolveu apostar em seu potencial e sua envergadura para crescer na carreira. Subitamente, porém, PC começou a deixar estranhos rastros e atitudes feias aparecerem. Que me desculpe o senhor médico vascaíno que apareceu hoje desmentindo o falso atestado para barrar o jogador Felipe Bastos, mas os ventos de São Januário sopram para o norte e mostram que onde há fumaça há fogo.
Jogador não gosta de comandante traíra. Jogador não gosta de comandante que esconde preferências ou sublima implicâncias com desculpas chulas ou armações. Ninguém aqui pode provar nem atestar que esse fato tenha ocorrido. Mas penso assim: quando se está entre amigos, é impossível haver desconfianças como essas. Elas só aparecem quando já existe margem ou razão para se acreditar nisso. Simples assim: eu tenho aqui dois amigos do peito, o Vitor e o Anderson. Formamos uma trindade vascaína. Não há espaço para que um pense que o outro é traíra ou conspira contra o outro. Onde há confiança e fidelidade não há espaço para que uma mentira cresça. Seguindo esse raciocínio, se o treinador tem algum fio da meada para que seus comandados o julguem capaz de uma atitude tão mesquinha como essa de falsificar um atestado médico para justificar a barracão de um atleta, dá pra perceber que o comando está esfacelado e que a moral desse líder está decadente.
O que fazer, então? Ficar com um treinador assim? Manda-lo embora “ontem”?
Admiro a prudência e o profissionalismo do nosso presidente e do Rodrigo Caetano. Nessas horas a gente entende porque tantos clubes assediam nosso homem forte do futebol. Não seria adequado varrer o lixo pra fora agora, tumultuando mais o ambiente. A menos que o sujeito continue dando suas entrevistas e insistindo no erro. Porque está faltando sobriedade até para calar a boca – o que muitas vezes é um talento, sobretudo quando não se tem nada que preste a se falar.
O fato é que as mesmas contusões que desfalcaram o Vasco também desfalcaram os líderes do campeonato. Que não deixaram de ser lideres por causa disso. O Vasco continua com um elenco forte, sem jogadores polêmicos ou confusionistas. Carlos Alberto, o mais polêmico do elenco, vem se esmerando em aparecer como líder do grupo desde o ano passado. Não temos dissidências, polemicas ou brigas internas – apesar daquele episodio indigesto do capitão com o expatriado Rodrigo Pimpão. Nosso elenco é ótimo, Éder Luís e Zé Roberto vestiram a camisa do Vasco com dedicação exemplar. Os meninos que subiram são corajosos e voluntariosos. Dedé é hoje o melhor zagueiro do país. Fágner joga melhor a cada partida e é nome certo para algum momento figurar em seleção. Felipe recuperou a forma e, como sabemos, é dono de rara técnica, tem raízes vascaínas e tem um estilo de jogo que é a cara do Vasco de Danilo Alvim, Geovani, Juninho Pernambucano e outros mais. Desculpem, mas o elenco precisa ser preservado.
Onde está o erro, então?
O erro está em quem fala demais.
Tenho aprendido na vida, em tantos anos com experiências variadas em comandos de equipes e grupos de teatro, de trabalho, de oração... do que quer que seja!... que um bom líder tem que ter sempre boas palavras, mas tem que saber usá-las. E saber também preservar a integridade do silêncio.
Jogar para a torcida uma imagem de que não tem nada a ver com o riscado me lembra a atitude mesquinha e esdrúxula do Renato Gaúcho, escalando um jogador de papel para uma decisão e depois xingando e agredindo o próprio atleta para fazer média com a torcida e se isentar da culpa pelo mau resultado. Não gosto disso! Ninguém gosta de covardia nem de apelação!
Esperemos o desenrolar dessa história. O jogo hoje será em casa, bem pertinho dos nossos olhos. Veremos bem claramente as coisas que ainda estão ocultas.
E não nos deixemos iludir por apelações ou conversas fiadas. A torcida vascaína é inteligente. Não acredita em falácias...