sexta-feira, 2 de abril de 2010

A nova camisa do vascão


(Hélio Ricardo)

Ver uma camisa vascaína é como ver a divindade. É ver, ao longe, um homem comum carregar, no peito, a insígnia do mais incomum e mais perfeito dos homens que já passaram pela Terra. A camisa do Vasco tem a mensagem de Cristo! A camisa do Vasco tem a mensagem da cruz!

Ver uma camisa vascaína não é ver uma cor. O Vasco tem cor, é fato, mas não é por sua cor que ele é Vasco. O Vasco é Vasco por sua cruz, símbolo vitalício e perene. A cruz de malta, decantada em verso e prosa na camisa vascaína, é ostentada no peito, sobre o coração, símbolo vivo da trajetória que a faixa lhe empresta, singrando mares e desafios, atravessando fronteiras de paixão e emoção. O Vasco - reafirmo! - não se traduz por suas cores alvinegras, mas por sua cruz pulsante, vermelha do sangue vivo e da paixão de seus torcedores extasiados. É ela - a cruz de malta - quem personaliza e difere o Vasco de todos os seus adversários de cor igual.

Já não importa se a cruz do Vasco é de malta ou não dentro do contexto histórico oficial: ela se fez cruz de malta no hino, no amor, na devoção de uma imensa torcida bem feliz, todos devotos dessa força que transcende os gramados e ilumina com fé e alegria os dias difíceis daqueles que a ostentam.

A nova camisa do Vasco é a afirmação da identidade de um clube. A nova camisa do Vasco é a cruz dentro da cruz, é a prorrogação do jogo da verdade, é a explosão da paixão em um tamanho diferenciado onde a cruz sai do peito e abre os braços, abraçando quem a veste. Se até aqui fomos renitentes em abraçar a cruz de malta, hoje é ela quem nos abraça na nova camisa do Vasco.

A nova camisa do Vasco traz uma cruz que nos identifica, que concentra nossa vocação e nossa militância ideológica nos caminhos da ressurreição e da fé, da esperança de dias melhores, da afirmação daquilo que somos. Ela ostenta nosso panteão com o símbolo que nos é mais sagrado; ela revela a nossa força máxima, que é a expressão do ponto menor de nossa bandeira exposto em perspectiva maior. Ao longe, quando perde-se a visão dos detalhes e todas as coisas parecem iguais, prevalece a imagem agigantada da cruz vascaína correndo no gramado, sob um fundo branco de paz.

A nova camisa do Vasco foi votada e escolhida pelos filhos de São Januário, pelos que têm a gênese da paixão cruzmaltina correndo nas veias. Foi feita para representar, dentro das quatro linhas do gramado, o anseio e o enlevo de seu séquito fiel de torcedores apaixonados. Aquela cruz vultosa que se faz prevalecer na nova camisa vascaína é como um brado de vitória de seus torcedores, ávidos por verem o Vasco prevalecer nos gramados. Por ser, a seu tempo, um novo grito de sua torcida manifesto de forma tangível, revive a mística da construção do Estádio de São Januário, quando fez-se necessário que o amor pelo clube se manifestasse materialmente através de seus torcedores. A exemplo da construção do estádio, a camisa também foi confeccionada pelo clamor da torcida, e exala as mesmas notas de paixão e entrega que tanto nos falam acerca de nossa própria história. Não é por menos que sua gola interna traga a inscrição "Gigante da Colina" repetidas vezes: ela é um manto que reforça o Gigante, a Colina, a história! E traz bordada, na parte traseira da camisa, a nau vascaína, qual azulejo ou mármore onde nosso brasão aparece entalhado.

Ali, na camisa nova do Vasco da Gama, não está a faixa que acompanha a cruz de malta nas camisas oficiais. A faixa, que representa o caminho, foi suprimida não por exclusão, mas por uma conceito simbólico: em perspectiva está a cruz da fé, e por ela - pela fé - os caminhos se fazem, os mares se abrem, as esperanças se renovam. A amplitude da cruz evidencia que os caminhos serão imaginários, abrir-se-ão quando menos se puder imaginá-los - como aconteceu no último domingo, na vitória indiscutível e mágica contra o adversário sem cruz. É por isso que a nova camisa não tem a faixa visível: com ela, a faixa surgirá aos olhos da fé, aos olhos dos que crêem, assim como surgiram os passes mágicos e abençoados de Carlos Alberto para as jogadas certeiras de gol. Aquela cruz engrandecida aponta para o fim do racismo, da discriminação,m da humilhação, do preconceito... ela aponta para a fé que só o Vasco teve de que todos poderiam, um dia, serem iguais.

Ser abraçado pela cruz de malta na nova camisa do Vasco é quase uma dádiva. Vesti-la é sentir-se acolhido e protegido por uma armadura, é ver-se como cavaleiro templário do futebol; é redimir-se das culpas; é vencer o pecado e a morte, é revestir-se de toda armadura de Deus contra as investidas do mal. A nova camisa do Vasco transborda em estética e graça, carrega a insígnia que adorna a realeza do futebol. É o nosso orgulho exponenciado, o nosso símbolo-mor exaltado, ocupando os espaços, transbordando camisa afora além de onde sempre esteve limitado, fazendo-se maior e mais querida, mais forte e mais imponente, mais vívida e mais vitoriosa. Ela se impõe e se expõe, se assina e nos assina, fala de si e fala de cada um de nós como amantes dessa bandeira vascaína que nos conduz.

Eu tenho um orgulho redobrado, um arfar no peito, um afago na alma, um acalanto no espírito, uma lágrima refulgente percorrendo o rosto, quando vejo e quando visto a nova camisa do Vasco. Porque ela me ergue, me abençoa, me eleva, me lembra daquilo que eu sou e daquilo que tenho por patrimônio e honra.

A nova camisa do Vasco faz ressoarem as primeiras estrofes de seu hino, que proclamam a cruz de malta como seu pendão.

Eu visto a nova camisa e grito: Vasco! Vasco! Vascoooo!!!

Mas já não sou eu quem grito: é ela, a nova camisa do Vasco, quem grita sozinha!

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